sábado, novembro 21, 2009

Quando tudo se vai.

Os pensamentos não queriam parar de atormentá-la. E parecia que as lembranças não iriam embora tão cedo. Tudo que ela queria agora, era esquecer, somente esquecer.
Mas, como que por um impulso, as palavras dele vieram em sua mente.
Lágrimas escorreram silenciosamente de seus olhos. Ela quis gritar, quebrar tudo ao seu alcance. Não. Ela não podia mais chorar por tudo que acontecera. Não podia mais chorar por alguém que jamais a deu valor. Mas tudo estava perdendo o controle, e ela não sabia mais o que fazer.
O telefone tocou, "Será ele?" - ela pensou.
Não era. Era só mais uma amiga preocupada.
"Vai ficar tudo bem, juro." - mentiu ela, colocando o telefone no gancho.
O silêncio do quarto a atormentava, aquele tique-taque do relógio também. Ela decidiu ouvir as músicas mais melancólicas e curtir a dor intensamente. Sem medo. Sem receio.
Quase que de imediato as lágrimas voltaram. Ela não pôde fazer nada dessa vez. Escorreram pelo seu rosto livremente, seu nenhuma mão para impedi-las.
Ela voltou ao passado. Alimentou seus traumas. Como se isso fosse algo natural agora.
"Preciso escrever, agora. Preciso escrever para ele. Preciso, antes que seja tarde, antes de eu perder completamente o controle"
Ela pegou uma caneta que usara antes para anotar o nome de alguém e um pedaço de papel qualquer. Ela deveria cuidar com as palavras que iria usar, elas são perigosas quando querem.
Com as mãos trêmulas, ela começou: "Apesar de tudo, eu não consegui. Apesar de todo o meu esforço, do desejo e da segurança, eu não pude. Era você ou eu. E eu já estava um tanto cansada de escolher você. Espero que em algum momento da sua vida você possa me entender e me perdoar talvez... e perdoar a si mesmo. Não houve nada, nada dentro de mim que justificasse a minha permanência aqui. Árida, oca, anestesiada. Um vazio agoniado, dolorido, mortal. Eu preciso de mim. Mas hoje, você foi tão frio comigo, tão diferente, que cheguei até a pensar que estava tudo acabado. Eu só pensei, mas você me confirmou isso, dizendo da forma mais fria possível. E você sabia muito bem que minha vida era você. Mas agora, o que farei sem você? O que farei sem ganhar um beijo de boa noite? Sem seu sorriso contagiante e seus olhos intensos olhando pra mim? Jamais irei esquecê-lo, ou talvez esqueça, mas não aqui. Preciso partir esta noite, mas eu não teria coragem de dizer isso na sua cara, por isso resolvi escrever.
Antes de tudo acontecer, eu alimentava algo dentro de mim. Era um sentimento bom e puro. Eu o amava da forma mais sincera possível. Me sentia protegida com você, e tenho certeza que você também me amava intensamente. Mas, meu amor, o que houve? Você não era assim. Sabe, agora não sei mais o que é amor. Não preciso da tua jaula, não quero a tua realidade. Não, obrigada. Quero continuar bem assim, mas sinto que não tenho mais forças para isso. Não posso me alongar nessa carta, prometi à mim mesma ser breve, mas preciso dizer pra você o quão mal me fez essa noite. Adeus, Matt."
Ela dobrou o papel molhado com suas lágrimas quando terminou de escrever. O levou consigo para fora. A brisa da noite era agradável. Seus cabelos dançavam conforme o vento. "É agora" - pensou ela.
E sem pensar ou planejar. Deixou que seus pés a guiassem para frente, para o fim. A carta caiu depois, levemente, em cima de seu peito.

Ele a encontrou na manhã seguinte. Chocado, atordoado, tentou fazer algo, mas de nada adiantou. Ela estava linda por fora, mas completamente fria por dentro. Ele viu a carta sobre ela. Resolveu ler.
"Não, isso não está acontecendo. Lu, acorde! Pelo amor de Deus, acorde!"
Ele estava fora de si. Deitou sobre ela, com os olhos enxados, disse em voz baixa: "Eu ainda a amo. Por favor, me perdoe... por favor." Ele não sabe quanto tempo ficou lá com ela. Mas foi o tempo suficiente para perder o controle e tomar o mesmo rumo que ela. Tomado pelo peso na consciência, acabou do lado dela. Lindo por fora, e completamente frio por dentro, como ela.

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