sexta-feira, abril 30, 2010

Neve


Luto contra a preguiça e vou em direção à janela.
Lá fora a neve cai sem cessar, dançando junto com o vento gelado. Por dentro, é como se eu estivesse naquela neve, com muito frio, insegurança e muito medo.
O telefona na escrivaninha ao lado da cama está silencioso.
Nenhuma ligação. Nada.
O café quente com biscoitos está da mesma forma que foi deixado à horas. Intocável.
Sem mais nenhuma esperança de ele dar algum sinal de vida no outro lado da linha, volto para minha cama desarrumada, porém, aconchegante.
Em uma tentantiva em vão de pegar no sono, lágrimas escorrem pelos meus olhos em um movimento involuntário.
Não, ele não virá, de novo.

Não existe palavra


Será que minhas simples palavras conseguem te dizer que te quero tanto assim?

Que sem você, o sorriso se transforma em lágrima ácida?

Não sei.

Às vezes não é necessário dizer tudo, tentar dizer já é muita coisa...

terça-feira, abril 20, 2010


(...)
E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro
(...)
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo...



- Nenhuma música soube traduzir melhor o que sinto como esta.

Tão longe


Ligo o computador e vou direto para minhas músicas tristes, com um suave som de piano ao fundo. Ouço e reflito. Por horas, ou minutos, não importa.
O que realmente importa é se estou bem nesse estado de reflexão.
Muitos diriam que sou triste, deprê, enfim, solitária.
Mas não é isso. Não, não é.
Talvez até seja, por um lado. Mas é desse jeito que eu me confronto.
Não me sinto só, eu estou só. Meus melhores amigos estão longe. Cada um com seus problemas, muitas vezes bem maiores que os meus. Cada um levando a vida de um jeito. Um quer ser engenheiro, uma promotora e outros tantos não sabem o que fazer da vida.
MSN abençoado que não me deixa longe deles. Mas, mesmo assim, a saudade é inevitável.
Sinto falta de uma conversa olhando nos olhos, poder tocar, abraçar, beijar... e dizer, com minha voz, não com as letras frias do computador que eu os amo muito.
E aí me pergunto: quando essa solidão termina? Em que parte da minha vida terei todos eles por perto?

terça-feira, abril 06, 2010

Voltando de um sonho - PARTE 2


Voltando para casa, devagar cenas da noite do baile de máscaras vieram como que uma mágica. Muitos detalhes, mas nenhuma resposta.
Sob o frio gélido de inverno, minha mente não parava de processar informações. Não era justo, porque fui esquecer daquele cara do baile? Tudo bem que ele estava irreconhecível, mas mesmo assim, devia ter pedido o nome dele.
Vindo para perto de mim, novamente Bruno me encara, com o mesmo olhar distante e triste. O que está havendo com ele?
Me aproximei.
"Oi, Bruno. O que faz aqui nesse frio?"
"Oi, Lu. Ah, pois é, gosto de caminhar no frio, é bom pra pensar."
"Entendo, também gosto."
"Tenho uma pergunta. Posso?"
"Ahn, pode."
"Não descobriu mais nada, alguma pista?"
"Pista? Sobre o quê?", perguntei preocupada.
"Você sabe muito bem, Lu. Bom, vou indo, tchau."
O fitei até desaparecer quando dobrou a esquina. Do que ele estava falando?
Seria sobre o baile?
Não, impossível, ele não estava lá. Eu acho.
Desvie o olhar o voltei para mim, confusa.

segunda-feira, abril 05, 2010

Voltando de um sonho - PARTE 1


Depois de um verão badalado e cheio de surpresas, as aulas recomeçaram. Olhando o professor apontando para o quadro negro da sala de aula, eu estava viajando em meus pensamentos. Depois de alguns minutos relembrando o verão tudo se tornou mais confuso. Tudo que eu perdi o sono para tentar entender estava se desfazendo. Involuntariamente olhei para o outro lado da sala. Bruno me observava indiretamente e também aparentava estar tendo uma viagem em seu subconsciente. Dei um sorriso tímido em sua direção e voltei o olhar pro professor, mas com minha mente ainda bem longe dali.

Vai além


Lembro-me muito bem do dia em que aconteceu, seria impossível esquecer. Eu estava parado em frente ao mar, observando a dança das ondas e sua melodia em toda sua plenitude. Estava escurecendo e ventando mais forte, mas eu não tinha pretensão de ir para casa. Tinha sido um dia difícil, como sempre. Fitando o chão, lembrei da época em que tudo era mais fácil, e em que não tinha que me esconder para ficar em paz. Parei de fitar o chão e olhei delicadamente para o céu. Estava azul. O azul mais lindo que eu já vira. Mas não importava quão lindo o céu estava. Por dentro era uma tempestade comigo mesmo. Não sabia o que mais podia perder nem machucar.
Então, senti uma leve brisa tocar meu rosto. Tive uma sensação estranha, como se alguém me observava. Foi então que eu a vi: uma linda garota, com longos cabelos dourados. Sua pele aparentava ser macia, com lábios carnudos e avermelhados. Seus olhos grandes e azuis se fundiam com o céu. Era completamente linda. Fiquei estupefato. Ela se aproximou devagar, me encarando e sorrindo. Seu nome era Sophia. Não me contou mais nada a seu respeito. Nunca a tinha visto antes, o que era realmente estranho.
Combinamos de nos encontrar no dia seguinte, na mesma hora e lugar. Quando cheguei em casa, estava radiante e muito feliz. Teria sido ela a causadora disso?
Foi difícil conseguir dormir naquela noite, ela tinha me hipnotizado com seu olhar cativante e sua beleza.
No dia seguinte, não prestei atenção aos professores e amigos, em meu pensamento só estava ela. Não deixei de pensar nela um instante sequer, foi muito estranho, porque era a primeira vez que isso acontecia comigo.
Meia hora antes do encontro fui para a praia. No caminho, o coração não me cabia. Os nervos não se mantinham quietos. Quando cheguei, ela estava à minha espera, sentada na areia, observando atentamente o mar. Quando me viu, disse: “Não lembrava quão lindo o mar era”. Olhei bem para seus olhos, eles estavam cheios de lágrimas.
“Preciso confessar uma coisa”.
E então, ela começou a falar, chorando sem cessar. Enquanto revelava seu segredo, fiquei horrorizado. Não podia ser verdade. Parecia que enquanto ela falava, eu estava a milhares de quilômetros de distância. E então ela disse aquilo que mudou nossas vidas para sempre: “Eu sou um espírito. Usei este corpo para chegar até você. Estou te procurando a muitos anos. Preciso de você para ficar completa, você é o amor da minha vida. Mas, para ficarmos juntos, você precisa me beijar. Não é um beijo qualquer, me beijando, você vira espírito como eu e nunca mais verá sua família, iremos para longe daqui.”
Lentamente, fui para perto dela. Pedaço por pedaço do meu corpo foi tocado em um ato de entrega. Cada pedaço de minha alma foi inundada pelo infinito que ela oferecia. Não éramos mais um homem e um espírito. Num render-se mútuo e mudo, éramos um só, para todo o sempre.