quinta-feira, junho 24, 2010

Ao nascer do sol

"Um novo dia. Vai encará-lo amanhã, pelo bem de Maya. Junto com o mar que desperta, junto com o restante de Bombaim - os pivetes de rua, os cachorros sem dono, os pobres vendedores de nozes e a mulher que só consegue vender seis couves-flores por dia, os habitantes da favela de olhos encovados, os rechonchudos moradores dos edifícios próximos, os trabalhadores que transbordam dos trens na estação de Churchgate, as crianças que embarcam nos ônibus escolares cheios de rangidos, os velhos que gemem em seus leitos de morte e as crianças que saem dos ventres escuros de suas mães -, junto com toda a metrópole gigantesca e todos os seus habitantes se arrastando em seus destinos individuais, como um exército de formigas fingindo ser um exército de gigantes, junto com Banubai em sua cama úmida, com Serabai em seu mundo despedaçado, com Viraf baba e sua culpa sufocante, com Maya e seus sonhos incertos e hesitantes, e também junto com Gopal e Amit acordando numa aldeia distante para sentir o cheiro de terra. Como todos eles, como os milhões de pessoas que não conhece e as poucas pessoas que conheceu, também vai enfrentar um novo dia amanhã.
Amanhã. A palavra flutua no ar por um momento, ao mesmo tempo promessa e ameaça. Depois vai embora como um barquinho de papel levado pela água que lambe seus tornozelos.
Está escuro, mas, dentro do coração de Bhima, o dia nasce."

A Distância Entre Nós, Thrity Umrigar.

p.s.: achei o final tão lindo, que não pude resistir e postei aqui. :)

2 comentários:

  1. Não só o final, mas o todo.
    Não, verdade. O 'barquinho de papel' me deu vontade de ter escrito isso.

    Lindo de se ser. De se passar um tempo.

    Beijo.

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  2. "A palavra flutua no ar por um momento, ao mesmo tempo promessa e ameaça."

    lindooo...

    beiijo,
    *.*

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